1. |
Breu
04:32
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desapegar do chão depois da surra
por ruas sujas caminhar a esmo
sentir na boca o gosto que perdura
de mais uma derrota pra si mesmo
abrir os olhos na manhã seguinte
as cinzas da folia ainda quentes
roupas de baixo, máscaras pingentes
um caos organizado com requinte
até um certo ponto é tudo início
passado esse limite é tudo fim
é como decolar de um trampolim
e mergulhar no breu do precipício
trazer no bolso a carta suicida
mil vezes reescrita e revisada
adormecida como uma granada
salvo-conduto pra cruzar a vida
até um certo ponto é tudo início
passado esse limite é tudo fim
é como decolar de um trampolim
e mergulhar no breu do precipício
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2. |
Mais do que isso
03:03
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os pés fora da cama tocando o chão frio
o café requentado num bule febril
o salgado barato entupido de sódio
o colgate no fim espremido com ódio
o batom, a gravata, o crachá do serviço
é preciso que exista algo mais do que isso
o sol nem se levanta, mais tarde ele vem
alcançar quem espera a chegada do trem
o passinho pra frente, a armadilha do vão
cem sonâmbulos dentro de cada vagão
arrastados pro centro num bloco maciço
é preciso que exista algo mais do que isso
estilhaços de chuva rebrilham no asfalto
refletindo urubus a reinar lá do alto
torres frias apontam pro céu suas luzes
sombras pairam sobre a plantação de avestruzes
o trabalho sem graça, o descanso mortiço
é preciso que exista algo mais do que isso
arrastados pro centro num bloco maciço
é preciso que exista algo mais do que isso
o batom, a gravata, o crachá do serviço
é preciso que exista algo mais do que isso
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3. |
Dois
05:18
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tudo que eu tenho cabe numa caixa
que eu queria mais vazia e leve
nada a gente leva dessa vida breve
mas eu sei que alguma coisa ainda me falta
e eu sou sincero quando digo
que ficar sozinho nunca me aborrece
mas melhor seria ter, às vezes me parece,
alguém pra estar na solidão comigo
eu só precisaria achar alguém
que por coincidência pense assim:
um sempre foi perfeitamente bom
mas dois também não deve ser ruim
nada me aflige mais que o burburinho
esse silêncio sempre foi meu aconchego
mas agora eu tô sentindo que o sossego
é bom demais pra desfrutar sozinho
eu só precisaria achar alguém
que por coincidência pense assim:
um sempre foi perfeitamente bom
mas dois também não deve ser ruim
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4. |
Balada do fundo do bar
04:07
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um instante de silêncio por favor
que eu estou tentando ouvir o universo
se for tudo improvisado ele é um horror
se fizer parte de um plano ele é perverso
eu vou me sentar no fundo do bar
e pedir num sussurro gentil
garçom, deixe o mundo acabar
mas não deixe o meu copo vazio
onde a coisa vai parar nunca se sabe
mas não é tão complicado imaginar
você reza pro cenário melhorar
eu só torço pra que o gelo não acabe
eu vou me sentar no fundo do bar
e pedir num sussurro gentil
garçom, deixe o mundo acabar
mas não deixe o meu copo vazio
talvez você consiga se lembrar
de como era tranquilo e divertido
o tempo em que apesar das diferenças
a gente tinha os mesmo inimigos
eu vou me sentar no fundo do bar
e pedir num sussurro gentil
garçom, deixe o mundo acabar
mas não deixe o meu copo vazio
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5. |
Do jardim
03:53
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você me estende as suas mãos e espera
que eu te ofereça alguma coisa nova
uma certeza, um truque, uma quimera
algum alívio, alguma nova droga
amargurado eu corro pro jardim
e sobre a terra fria então me deito
pra que do esterco que me forra o peito
alguma coisa nova nasça enfim
três noites derramadas sobre o chão
brota afinal a flor do desatino
pétalas de um tecido muito fino
que vão se dissolver nas suas mãos
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6. |
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um aperto de mãos no atol de bikini
cogumelos espalham esporos mortais
caranguejos se agarram à beira do cais
bolhas sobem à flor de serenos martinis
é preciso pular sete ondas de choque
abraçar um coqueiro à espera do baque
tartarugas cintilam, corais resplandecem
tudo brilha no mar quando as bombas florescem
hoje foi tão bonito, amanhã vai ter mais
generais sob as cinzas num êxtase breve
como napoleões recobertos de neve
os pulmões abrigando inimigos brutais
é preciso pular sete ondas de choque
abraçar um coqueiro à espera do baque
tartarugas cintilam, corais resplandecem
tudo brilha no mar quando as bombas florescem
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7. |
Far niente
02:54
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uma espécie de dor entalada no meio da tarde
arrastada e triste
os segundos vão roendo as duras bordas das horas
sem apetite
enquanto você se entrega
ao mais amargo far niente
a preguiça promete à vergonha
que o dia seguinte vai ser diferente
com o sol cozinhando a semana inteira em fogo brando
a vontade evapora
e embaça a vidraça de onde você namorava
a vida lá fora
enquanto você se entrega
ao mais amargo far niente
a preguiça promete à vergonha
que o dia seguinte vai ser diferente
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